quinta-feira, agosto 11, 2011

Ocho...?

Antes de passar pra introdução/rascunho que está mais a frente, uma pequena digressão.

Era colegial e éramos todos jovens. Eu e o Senhor Outro Postador costumávamos fazer historinhas em quadrinhos durante as aulas pra matar o tempo e o desinteresse, afinal, ninguém realmente se importava com o vestibunar àqueles tempos. Mas sempre eram quadrinhos muito crus e sem qualquer direção, sempre no improviso.
Então por que não fazermos quadrinhos com uma história? Com personagens originais e uma história sólida de fundo? A coisa boa de se ter 16 anos é que tudo é possível, até os projetos mais natimortos do mundo.
Eis que surgiu a ideia de uma história chamada Eight. Se passaria num mundo pós-apocalíptico e ia revolver em torno de um personagem principal, potencialmente chamado de Ikki, ou coisa parecida. Ele estaria numa saga para destruir todos os oito templos, por algum motivo.

Como era de se esperar, essa ideia não foi pra frente e nunca chegamos a desenhar uma página sequer. Mas, por algum motivo, Eight ficou na minha cabeça desde então, nunca realmente saindo de lá. E o pior: começou a amadurecer sozinha, sem eu querer. De vez em quando, me pegava pensando nela ou vendo trechos da história se desenvolvendo quando ouvia certas músicas, como costumava acontecer com Werdil/Elementals/Aeternia/Flores.
Decidi então que esse seria a saga que escreveria depois de Aeternia. Tenho, portanto, duas linhas de escrita: a oneshot, onde foi Elementals e agora vai flores; e a segunda, das histórias longas de mais de um livro, onde ia Werdil, agora vai Aeternia e, assim que isso estiver concluído, Ocho.

Ora, Eight se transformou em Ocho por um simples motivo: A Torre Negra.
Tal qual Harry Potter, A Torre Negra é uma série de sete livros, só que do Stephen King. Tem um tom muito mais adulto e profundo que o primeiro e eu comecei a me apaixonar sem perceber. Então por que não basear Eight em A Torre Negra? Por conta desse mesmo motivo, Eight passou a se chamar Ocho (tendo em vista o nível de faroeste necessário para a história).

Imaginem um prédio que acabou de ter seus pilares destruídos. Há aquele momento no qual ele ainda está de pé, prestes a começar a ruir. Assim está o mundo de Ocho. O céu está decadente e vomitando demônios. A realidade já não funciona da maneira que deveria. Tudo está a caminho de apodrecer e morrer, mas não sem o sofrimento de dor antes. Não, primeiro todos devem sofrer e morrer de uma miséria gradual e venenosa.
Eis que se destaca o personagem principal e a mulher que leva consigo. Eles não estão ali para salvar o mundo, mesmo porquê, ele passou desse ponto. O mundo não pode ser salvo. Vai acabar. Ponto.
Eles estão ali para dar o golpe de misericórdia no mundo. Acabar com o sofrimento de todos com a morte súbita.
Essa é a base na qual toda a história se desenvolve.

Essa postagem (ainda) vai ganhar mais texto, um tema e uma explicação nos próximos dias/semanas. Por enquanto, só uma introdução que não conseguiu esperar uns cinco anos:


AAAA odiava quando ele entrava naquele estado. Corria o mais que suas pernas conseguiam enquanto carregava aquela coisa extremamente pesada em seus braços. Era incrível como ele conseguia segurar, apontá-la e atirar com aquilo como se não fosse mais que um bastão de madeira. Passou pelos estilhaços de madeira a que as construções eram reduzidas quando ele começava a correr e exterminar. Pulou por cima de um corpo caído que ainda parecia vivo, quente... fumegante.
BBBB viu aquelas garras enormes vindo perigosamente em sua direção, querendo seu rosto, querendo sua carne. Seu um de seus sorrisos brilhantes e assassinos. Sabia o que eles queriam de verdade. Queriam sua alma, seu sangue... sua vida. Queriam tudo aquilo que ele tinha de sobra – ainda que numa forma doente e decadente – mas, ei, quando se está no deserto, não se reclama da água encontrada. Suas mãos agarraram o cabo daquela arma agourenta com potência e seu corpo potente fez aquilo que sabia fazer: exterminar. A lâmina roxa atravessou aquela forma maldita com velocidade, produzindo um som profundo e nojento. Nada escorreu ou caiu no chão. O corpo não tinha sangue algum, como ele estava cansado de saber.
Não se perca com esses pequenos! berrou Caçador nas entranhas de sua mente. Ele só está querendo te distrair e te cansar!
E você acha que eu não sei disso...!? devolveu ele.
— AAAA, arma! – berrou por cima de seu ombro, enquanto girava aquela coisa maldita, destruindo um novo demônio que tinha se colocado entre ele e sua presa.
Ela atirou aquela arma como conseguia e BBBB não se demorou a agarrá-la no ar, sem nem ao menos dispensar um olhar para se assegurar se sua mão encontraria aquele cano frio ou simplesmente ar. Aquilo sempre a surpreendia... quem tinha dito a ele onde a arma estava ou onde ele tinha que colocar a mão...? Seu pai? Sua mãe? Ou era BBBB mesmo...? Era algum instinto assassino de sobrevivência com o qual ele já nascera por ser quem era.
Deixou a arma maldita caído no chão (mas não sozinha, AAAA sabia, nunca sozinha) e tomou mira. Um trovão incrível ribombou acordou os mortos, explosão e rugido vindo daquela arma. O topo de um dos postes antigos se desfez automaticamente, sendo reduzido a pó. Ele desmontou a arma e duas cápsulas fumegantes pipocaram para fora, vermelhas vibrantes de calor. Manteve-se correndo na direção daquela entidade do inferno. Seu sorriso novamente se abriu. Não, não era uma entidade do inferno e ele sabia muito bem disso. Era uma entidade do céu. O céu estava bem ali acima deles para provar aquilo, com sua eterna cor amarela desgastada, doente.
Um demônio saltou na direção de BBBB, garras e dentes arreganhados, berrando com o som infernal, mas um novo estrondo dizimou qualquer tentativa. Mais duas cápsulas quicaram no chão, incandescentes.
Pare de atirar dessa forma! Caçador rugiu em sua mente.
Fique na sua. devolveu BBBB.
Jogou a arma para trás, na direção de AAAA e com a outra mão agarrou a corrente e puxou sua arma de volta. Sentiu a lâmina agradecer por estar novamente com ele, perto de quem amava com tanta força. Os olhos de BBBB afundaram no rosto ao sentir aquele veneno amoroso vindo de sua mãe e sua expressão se tornou incrivelmente sombria. Segurando sua mãe com uma mão e puxando mais corrente de seu corpo com a outra, BBBB se manteve em corrida. A entidade maligna não encontrara o topo do poste, onde pretendia pousar, e caiu. Estaria indefesa por algum tempo.
O que você pensa que está fazendo!? Não se aproxime! repreendeu Caçador.
Já disse pra ficar na sua!
A entidade tentava se prender no poste, mas só conseguia cair. Suas patas, seus tentáculos, tudo o que servia de deformidade não conseguia mantê-la num ponto.
— Como é não saber que está morta!? – berrou BBBB para a entidade, um brilho assassino crescendo em si – Como é tentar voltar a ter aquilo que nunca mais pode ser tido!? Me diga!
A entidade finalmente tocou o chão e se levantou. Os dois se encararam longamente. BBBB não via olhos, mas sabia que estava sendo circunspectado de cima a baixo. “Eu sou uma das entidades que veio desses céus, jovem” dizia aquela sensação que irradiava de sua forma negra e amorfa “Eu vi coisas que você nunca viu, e agradeça por isso. Reze pra nunca precisar vê-las”. Por final, também dizia “Eu sei o porquê do mundo estar da maneira que está e você não quer saber dos motivos. Dê as costas à sua sina e vá viver o que resta da sua vida neste resto de mundo. Conselho de amigo”.
— AAAA, recue. – sibilou BBBB por cima de seu ombro.
— Mas...
— Você é importante demais pra chegar tão perto. Não vou conseguir te proteger disso. Recue.
Não arrisque a m...
Já disse pra ficar quieto, pai.
Todos os tentáculos, pernas, patas e qualquer outro material amorfo voou na direção de BBBB, que meramente tomou posição e aguardou. Tinha a arma maldita segura em uma mão, de cujo cabo saía a corrente que passava na outra mão. Corrente que continuava até se enterrar em suas costas, enrolada e presa fortemente em sua coluna, de forma que ele nunca se separasse daquela espada que também era uma maldição que também era sua mãe. Viu todo aquele negrume se aproximar dele, clamando por sua alma e aguardou. Um sorriso serrilhado crescendo lentamente em seus lábios machucados.
Girou o pé no chão arenoso, puxou mais corrente, fazendo mais e mais centímetros atravessarem suas costas, sua pele e seu sangue e colocou seu braço com a espada para trás, tomando mira. Lançou a espada na direção da entidade. Era tarde. As patas, pernas ou o que quer que fosse não conseguiriam barrar o avanço da arma, estavam a tempo demais na inércia de ir em frente. A espada foi perfurando e rasgando tudo que via em sua frente.
Atravessou o corpo do ser, saindo do outro lado. BBBB agarrou a corrente neste momento e a puxou de volta, num giro. O punho da espada se abriu tal qual um guarda-chuva e se prendeu no corpo do ser, imobilizando-o.
— AAAA, arma. – ordenou ele, estendendo o braço para trás de si.
Agarrou sua arma e tomou mira. Aquele monstro tentava se livrar a espada agourenta, mas sem sucesso. Neste ponto BBBB ria como. Uma risada maníaca, de gana e fome. Se despediu da entidade que tentava ganhar distância ou ir para algum canto, mas não conseguia.
Mais um rugido ensurdecedor seguido de um flash potente explodiu naquela cidade abandonada. A entidade estourou com violência e finalmente deixou de se mover.
Colocou sua arma em seu suporte sobre o ombro, deixando-a dependurada ali. Puxou sua corrente, trazendo a espada de volta para si. Corrente se enrolando de volta, tal qual um carretinho de vara de pescar. Ele sorriu. Mas eram correntes, mas eram sua espinha. Eram a porra de seus ossos. A espada também possuía um suporte de atravessado em suas costas, onde foi guardada.
BBBB virou-se e encarou AAAA pela primeira vez desde que toda aquela perseguição tinha começado. Ela não estava assustada ou chocada, não. Aquilo tudo deixara de surpreendê-la há muito tempo. Mas havia sempre um canto dela, em algum lugar nas profundezas de sua mente que sempre ficava... sempre ficava o que? Abalada? Atacada? Violada?
Mexida talvez? Não. Era outra coisa.
Ele se aproximou dela e passou um braço por cima do ombro dela, puxando-a para perto dele.
— Está tudo bem agora. – disse ele num tom neutro. Mas sua mão que deixara o ombro dela e percorrera em descida seu corpo inteiro até seu baixo vente dizia outra coisa.
“Tudo bem”...? Não, não estava tudo bem. Ali, entre eles, naquele cenário, naquela cidade, naquele mundo. Naquele céu. Não.
Nada estava bem.